segunda-feira, 27 de outubro de 2008

PLURAL

A lesma desenha
no asfalto quente
um rastro redondo, cintilante, fulgural.

A fumaça borda
no céu ausente
um lastro plúmbeo, instigante, chemical.

As janelas acendem
no edifício dormente
um mastro indefinido, mutante, referencial.

Em todos os cantos a poesia da cidade me grita.
Sua forma é presente.
Sua norma, plural.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

NINGUÉM SABE, NINGUÉM

Atendendo a pedidos, estou postando novamente uma das minhas músicas aqui, a minha primeira composição. Dessa vez, vem acompanhada da letra, para se ler enquanto se escuta... A gravação é muito antiga e não dá para escutar direito, mas pelo menos agora dá para entender tudinho...




A rua a buzina o pó a fumaça a sujeira a dó carros vão e vêem pessoas vão e vêem
Os meninos sujos a cola pulmões pulsam miséria braços e pernas braços sem pernas
esmola

Tetos alças e alçapões concreto asfalto multidões muito pra iludir tanto que mentir algo a se sentir
louco

Metrópoles atropelam a mente
E ninguém sabe
Ninguém

sábado, 18 de outubro de 2008

AUTORA CONVIDADA - PAULA CAJATY


Poesia pra quê?
Paula Cajaty

Poesia para encontrar,
para ouvir, para afundar.
Poesia quando nada mais há
e sobra apenas um fio
de razão para agarrar.
Poesia quando se quer dormir
mas não se acha lugar.
Poesia feito cachaça
bom para tomar no frio
bom para esquecer o fastio
bom para quem se dá.
Poesia feito música
e tocar fundo
e encher o peito
de silêncios
desses sons do mundo
que não páram de tocar.
Poesia feita de palavra
que paira no ar, arteira
quer sair, fugir pela fresta
na beira da fantasia
quer virar verdade
e de algum jeito, qualquer um,
mesmo feito tosca miragem,
existir como a gente.

Eu não faço poesia, Sofia,
é ela quem me faz.

(...) ... (...)

Conheci a Paula pela internet, quando comecei a fazer esse blog. Ela também tem um site dedicado à literatura e à poesia, que já foi referenciado pela Agência Riff e pelos escritores e poetas Marcelo Moutinho, Fernando Molica e Márcio-André.Com um jeito de escrever que me emociona sempre, Paula escreve desde que amou pela primeira vez, como revela na apresentação do seu primeiro livro publicado em setembro pela 7Letras, "Afrodite In Verso". Advogada por formação acadêmica, ela sempre encontrou na literatura um caminho para alcançar seus próprios sonhos e prazeres. Em seus projetos para o futuro, estão a realização de ciclos de palestras com temas voltados para o universo feminino e a exploração de outros formatos literários, como o conto e o romance.

Obrigada Paula, pela linda contribuição!Como você disse no seu site, que alcance sempre o sucesso a literatura de gente que acredita na 'poesia do encontro'.

sábado, 11 de outubro de 2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

INSPIRAÇÃO

Brota de dentro
vem com o vento
bate e rebate tantas quantas precisas vezes
em busca de um arremate
palavra solta frase feita
fruto de bruta imagem
linhagem perfeita
lista diária montada sem régua
luta diária travada sem trégua
pista diária seguida sem regra
fato contrário arbitrário extra-ordinário
supra-ordinário superordinário
tanto faz
faz de conta pronto para entrar em cartaz
dado concreto nada discreto secreto
requinte sonhado administrado
requinte proposto administrável
ferimento imposto íntimo e secular
intervenção divina providencial não habitual
hábito louco realismo tosco reinventado
idade desconstruída já pré-estabelecida
cidade situada sitiada
sítios arqueológicos revisitados
invenção pura dura realidade insegura
sofrimento acentuado em busca de cura
tormento tolerado reconfigurado
construção invadida inacabada
rito perdido mito desfigurado
cisco revisto atrapalhando a vista
revista aberta de consultórios odontológicos
lógica criada atormentada combinada.


Assobio interno que grita e pulsa
expulsa e apita o que está regurgitado.



A vida não precisa de explicação.
Só de inspiração.
E de algum mal-estar de vez em quando enquanto se devolvem às coisas o seu lugar.