sábado, 21 de junho de 2008

ESPIRAL


No fundo
dos seus
olhos
vejo
estrelinhas
que fazem
o meu
nervoso
sistema
rodar
em volta
de palavras
soltas
das entrelinhas
que te
piscam
em
roleta russa.

terça-feira, 17 de junho de 2008

CONJUNÇÃO



No meio das pernas
o sexo.
No meio dos braços
o plexo.
Te abraço.
Te enlaço.
Te abarco.
Te recebo.
Neste entrelugar de conjugações.

Se você cabe dentro de mim
sem ou com fusão
não cabe a ninguém julgar
tal conjunção.

Somos conjunto confabuloso.
... (...) ... (...) ...
... (...) ... (...) ...
A figura que uilizei nesta poesia é um Conjunto de Mandelbrot.
Benoit Mandelbrot foi um matemático que descobriu
a geometria fractal na década de 70.
Fractais são formas extremamente complexas
tanto nos detalhes quanto no conjunto.
Informações e figura tiradas da página:

quarta-feira, 11 de junho de 2008

CONSIGNAÇÃO

De vez em quando te dou
Muitas vezes me empresto
O que é seu eu sou
E o que sou não presto
Depois me pego de volta
Com signos de ação impressos

SIMPLES



Quero coisas puras e simples.
Uma casa com varanda, um quintal com frutas, um marido apaixonado.
Uma escola com alunos, livros e literatura.
E um salário que dê para levar a vida sem preocupações e ostentações.
Quero para mim a feliz rotina de arrumar a casa,
colher as flores, regar as plantas, temperar o almoço.
Depois à noite, perfumar o corpo e deitar de novo com o amante de todo dia.
E um dia, gerar no ventre os filhos desse amor rotineiro.
E vê-los crescendo felizes. E levá-los para passear aos domingos, na casa dos avós.
Quero participar das reuniões familiares, encontrar parentes distantes,
rever primos queridos, comer frango assado com arroz e devorar doces caseiros.
Estranhar a barulheira das crianças e me emocionar com as histórias dos mais velhos.
E ao findar das tardes, discutir sobre os prazeres proibidos,
na rodinha das mulheres casadas.
E sorrir gostosamente uma cumplicidade comigo mesma,
uma certeza de ter prazer na vida.

Quero me surpreender com coisas poucas,
um sorriso, uma rosa, uma palavra.
Quero descobrir a vida todo dia.

De vez em quando eu quero coisas tão puras, tão doces, tão simples;
o mundo todo reside dentro de mim.
Isso me assusta.
Porque ser feliz é simples,
e eu sei.


(...) ... (...) ... (...)


Essa é para você, mãe. Porque me pediu.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Felicidades

Surgiu na minha vida por um acidente de trabalho.
Ungiu sabores de amizade, alegria, lealdade, esperança.
Agiu sempre como um cavalheiro digno de toda confiança.
Parabéns Gil!

Seu aniversário foi ontem, mas as felicidades que lhe desejo são para todos os dias de sua vida.


segunda-feira, 9 de junho de 2008


No filme A Sociedade dos Poetas Mortos, o professor diz aos alunos: "Medicina, engenharia, física, química, são coisas excelentes. Não podemos viver sem elas. Elas nos dão os meios para viver. Mas elas não são capazes de nos dar razões para viver". O que nos dá razões para viver é a beleza.

... (...) ... (...) ...
Poesia pra quê?
Para revelar a beleza adormecida na matéria bruta.

domingo, 8 de junho de 2008

Almoço de ontem



Enquanto eu temperava o feijão lá em casa, ele cozinhava a canjiquinha no sítio.
Preto e amarelo. Gás e lenha. Moderno e rústico. Panela de pressão e panela de pedra. A impressão de que somos opostos se confirmou. O feijão ficou salgado e a canjiquinha sem sal. Mas da mistura dos dois surgiu uma refeição perfeita. Foi só saber dosar o melhor de cada um.

... (...) ... (...) ... (...)
Poesia pra quê?
Para dar mais sabor às coisas simples da vida.

sábado, 7 de junho de 2008

SUBTRAÇÃO









Eu já te sabia
desde o início
todo o final.

Os castelos de areia que construímos juntos
eu vi.

Depois destruímo-nos
e nus deitamos
sobre a
sobra
que presta
quando
subtraí-se
o que em nenhum
dos dois resta.


Frio na barriga, emoção, falta de ar, suspiro, surpresa, vontade de rir ou chorar, desespero, ânsia, saudades, esperança.
Poesia é como um parque de diversões. Provoca tudo isso e muito mais.
Talvez por isso o blog tenha recebido o apelido carinhoso de praque, um trocadilho pertinente de parque.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Transversal




Atravessa-me
as narinas
seu cheiro

Atravaca-me
os sentidos
sua presença

Atropela-me
o juízo
seu toque

O que vem de ti
me atinge em cheio
bem no meio
Do coração e dali

Pego a transversal
querendo sair de mim
pra buscar em não perpendicular
tudo o que me faz perder o ar




Dois e Dois são Quatro

Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
.......
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
.......
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
.......
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
.......
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena.......
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
.......
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.
Ferreira Gullar

Esta poesia de Ferreira Gullar me lembra o famoso verso de Fernando Pessoa: tudo vale a pena, quando a alma não é pequena. E me faz querer seguir em frente. Sempre.

Poesia pra quê?
Para nos dar um impulso e nos fazer seguir adiante.

De volta à poesia


Em 1999 sofri um grave acidente. Estava indo para João Monlevade e o carro capotou. Eu fui jogada para fora, tive traumatismo craniano, fiquei sem falar e sem andar por um tempo. Salvei-me por um milagre. E, contrariando a previsão dos médicos, recuperei-me com uma rapidez impressionante. Depois de 28 dias já estava de volta às aulas (cursava jornalismo na UFMG).

Morava apenas com meu irmão em BH e fazia tudo sozinha, pegava ônibus, ia para aulas à noite, ia para a oficina de dramaturgia no Grupo Galpão.

Depois disso, não sei o que aconteceu, mas fiquei um tempo sem escrever poesias... Talvez esperando as coisas voltarem ao lugar dentro da minha cabeça. Aí logo depois eu conheci o Paulo, meu ex-marido (tinha apenas dois meses do acidente e ainda estava um pouco vesga, hoje não tenho sequela nenhuma, graças a Deus), fiquei noiva, engravidei, juntei, formei, comecei a correr atrás do pão de cada dia... E a poesia foi ficando pra depois.

Quando João nasceu, comecei a escrever para crianças. Escrevi "O Menino Revirado", "De Grumete a Saci todo mundo passou por aqui", "A Coroação de um pé de chinelo". Tudo isso em 2002. Então fui correr atrás de editoras e vieram as constantes negativas. Desisti por um tempo, atropelada pela correria do dia-a-dia, e parei de escrever de novo.

Na verdade, na verdade, nunca parei de escrever totalmente, porque a escrita faz parte do meu trabalho e acaba sendo o início e o fim de tudo. Mas dei um tempo naquilo que brotava de dentro de mim. Enquanto isso fui criando um senso crítico exagerado, uma auto-crítica feroz, e passei a não gostar até mesmo das coisas que tinha escrito antes de 1999.

Até que, no ano passado, lancei o livro "O Menino Revirado" e isso me deu um novo gás. Comecei a deixar as coisas fluírem e elas voltaram com força total. Aliás, Total é o nome do novo livro de poesias que estou acabando de escrever. Depois vou postar algumas aqui, e também algumas que escrevi antes do acidente.

As poesias são como bolhas de sabão num dia de inverno. Você dá o sopro inicial e elas voam contra o vento, revelando luzes e coisas que ninguém nunca imaginou existir.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Pra quê poesia?

Sofia, pra quê poesia?
As crianças já estão dormindo.
Seu salário já está na conta.
Todas as coisas estão no seu devido lugar.
Sofia, pra quê poesia?
Sua saúde vai bem.
Sua carreira vai de vento em polpa.
Em seu armário roupa já não cabe mais.
Poesia pra quê?
Se a sua imagem no espelho lhe convém.
Se você não é todo mundo, nem tampouco um zé ninguém.
Se todas as questões de aritmética, filosofia, física, história e economia você já respondeu com maestria. E até ganhou um dez.
Poesia pra quê? Pra quê poesia?


... (...) ... (...) ... (...) ...

Poesia pra fazer voar a pluma
Poesia para abrilhantar um dia de chuva
Poesia para dar rubor às faces
Poesia para endiabrar embolorados enlaces
Poesia para saciar a fome
Poesia para renomear os nomes
Poesia para tirar as coisas do seu lugar
Poesia para cego voltar a enxergar

... (...) ... (...) ... (...) ...

Ora, poesia pra quem?
Poesia pra mim, pro mundo inteiro.
Poesia pra você.

Seja bem vindo